quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Do outro lado já foi!



Ainda hei de passar a entrada de ano mais cedo (um dia...) ;)

* Feliz Ano *

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

For la gerence


(Queria ter postado sobre o acontecimento, mas na altura nao tive oportunidade... faço então assim um encaminhamento para o teu post e os meus gratos agradecimentos! )

Obrigado foi muito bom partilhar aquele momento contigo,
viajar na casa da musica
e beber aquele copo de vinho *

sábado, 19 de dezembro de 2009

Mas que coisa bonita pode ser o amor!...

“ Estavam juntos há muitos anos, tantos que, apesar das anteriores mulheres dele, ninguém aceitava que esta não fosse senão a única. Eu gosto quando o amor nos dá identidade mesmo que nos roube a nossa. O amor é tão bom e chega tão sedento, tão faminto, que se continua em nós rouba-nos tudo. Mas quando nos deixamos roubar é porque acreditamos. E felizes daqueles que acreditam…
Ele era um homem daqueles metidos para dentro: moderno por fora, mas tradicional ao mesmo tempo. Eu tenho muitos amigos assim. Há coisas que eles não conseguem mudar. E agora também não se luta contra os hábitos da idade.
Ela apareceu e rondou-o muitos dias, meses até. Era uma mulher especialmente bonita. Olhos azuis, pele muito clara e cabelo dourado. Quando eles se apaixonaram há muito tempo ainda não havia aquela parva ideia de as loiras serem burras. Esta coisa de se subestimar as loiras irrita-me: é uma forma de as castigar só porque as falsas se permitem à frivolidade e as verdadeiras têm de ser penalizadas por serem bonitas sem artifícios. Quando caíram nos braços um do outro nunca mais se largaram. E olhem que ela não se vestia como ele, nem ele como ela. No entanto, ouviam a mesma canção e tudo neles, como a água no rio, corria num só sentido.
Assim ficaram anos, décadas. A vida ligada por um fio e eles em cada uma das pontas. As vezes, os que estão de fora até temem por um amor assim com o medo que um dos lados quebre e o outro nunca mais se equilibre. Mas as pessoas não podem, não devem, dizer dos receios que crescem nelas, ou isso estragaria a vida e a paixão.
Os dois cresceram com o amor que os unia. Não os tendo acompanhado, julgo que ele, o homem áspero, foi amaciando o coração com o mel que ela lhe trazia, e ela, mesmo vendo ás vezes a aspereza nele, sorria, porque quem tem mel não quer doce (ou o amor tornava-se numa grande dor de barriga). Que o amor seja só uma grande dor no peito.
Ela ensinou-o a gostar de coisas que antes – a ele – lhe pareciam ridículas. E primeiro ele rejeitou-as até se permitir encaixa-las na sua vida. Eu gosto disso no amor: quando cedemos. Quando nos vergamos para aceitar o inaceitável. È normalmente nessas alturas que descobrimos grandes paixões. É nessas alturas que nos ouvem disser: “nunca pensei gostar tanto disto”… O amor traz-nos essa flexibilidade. Os que nunca se vergam acabam duramente sozinhos.
Ele também a ensinou a gostar de coisas diferentes das do mundo dela: não nós de pesca ou truques de sueca mas coisas dos discos e dos livros. Foi só ele estender-lhe a primeira pista e, não muito tempo depois, já ela o estava ultrapassar com a sua aprendizagem. Quando as pessoas se amam muito é porque têm orgulho uma na outra, senão misturava-se a compaixão e a compaixão não é motor que faça o amor andar. Quando há esse amor grande, as pessoas insistem em surpreender-se. Ela passou a levar-lhe livros para casa de que ele nunca ouvira falar, e ele conquistava-a com uma música, mais uma voz que ela deixava chegar ao coração.
Tiveram filhos, cães, férias de sol, viagens, e trabalharam muito para poder ter dinheiro. O dinheiro é importante para que o amor não se torne uma coisa coitadinha. É sobretudo para prescindir dele e escolher a paixão.
Mesmo no trabalho eles arranjaram maneira de se cruzar, de se misturar, de nos confundir com as suas identidades. Ambos movidos por uma força qualquer que não se percebia se era a que resultava dos dois, ou se cada um deles era assim generoso e destemido na partilha.
Foi tudo rápido e inesperado: ele morreu há dias. E ouvi-la a recorda-lo foi como se ele nunca tivesse sido áspero ou arredio. É sobre o Amor que se tem de escrever, porque do menos nobre estão os jornais cheios.
Ho God, make me good, but not yet!

In O Sexo e a Cidália, Noticias Sábado, 7 de Novembro de 2009



Arranquei a página do jornal do café no dia em que o li...
estava guardado na minha carteira desde então à espera da oportunidade de o transcrever.



Mas que coisa bonita pode ser o amor... assim, apenas, na sua simplicidade!