domingo, 1 de fevereiro de 2009

Perdida em mim





Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida! ...
Sou aquela que passa a ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,

Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!


("Eu" Florbela Espanca)

5 comentários:

NyiZla disse...

E porque ainda há de vir quem consiga aproximar-se da perfeição das palavras de Florbela Espanca!
Se calhar porque todos nos inquietamos com a velha questão de quem somos...com vermo-nos reflectidos no espelho e percebermos quem é aquela pessoa, sem medos, sem dúvidas.
Vou-me sempre lembrar desta frase (que agora não sei bem de onde veio, se de uma das minhas aulas de Personalidade, se de alguém conhecido, se de algum livro...) e que na minha memória desenha-se assim:
Ninguém pode estar à janela e ver-se a passar lá fora.

É por isso que nos perdemos em nós próprios constantemente...porque é tão difícil encontrarmo-nos (e não é isso que passamos a vida a tentar?).

***

Anónimo disse...

somos todas perdidas em nós proprias.... quando n temos o caminho da vida trilhado, todas nós nos perdemos em nós, nas nossas opções, perdemo-nos nos braços de outra pessoa, perdemo-nos nos destinos, perdemo-nos nas palavras, perdemo-nos nos rios nos mares deste mundo, perdemo-nos nas ruas destas cidades, perdemo-nos em nós...
mas perdidas encontramos sempre um caminho, uma luz ao fundo da escuridao a qual nos desperta e renova..... essa luz... esse caminho.... que venha ele ter connosco ate ao coração

Anónimo disse...

Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar. —
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
Ainda que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...

("Eu" Álvaro de Campos)

Esta é a minha versão.
;)

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Eu até me oferecia para tirar o teu retrato, mas já que te conheces tão bem... :P

wakamusha disse...

Pois então estarias tramado...terias à tua frente Mega sessão fotográfica...
Ando longe da pessoa que sou...
talvez era...
mais fácil,
da pessoa que conhecia...

Há uns anos lembro-me de um texto que me ficou na cabeça sobre fotografias e o que nelas fica de nós... vou ver se encontro e "posto-te" ;)

Anónimo disse...

Eu tenho um cartão de memória na máquina digital de 1GB e um rolo quase novo na máquina "nova". Penso que deve chegar... ;)

Ainda Álvaro de Campos:

"Quem é que cantava isso?
Isso estava lá.
Lembro-me mas esqueço."

Espero que não estejas a confundir com mudança... ;)
Vai-se mudando coisas. Outras mais do que outras. Umas mais belas do que outras, mas vai-se mudando.
E se calhar por isso, achas que não te conheces.
Mas não percas o balanço.
E se mesmo assim estiveres com problemas em perceberes quem és, existem os amigos.... E aquele moço das fotos de Santa Maria da Feira. Aquele que é um bocado parvo.